quinta-feira, junho 26, 2008

Desenho-te

Dentro das surpresas que esta vida nos vai reservando, recebi por e-mail dois escritos de alguém que não tendo blog, tem o que nos caracteriza a todos: Ímpetos de escrita.

E por ter gostado do que li, aqui o partilho convosco.


Nestes caminhos semblantes de luz,
Pego minha mão num pincel e desenho-te
Vou fechando os olhos e desenhando...

Pinto-te de aguarelas brilhantes...

Acercas-te em mim... o medo perdeu-se
e tu tocas-me... retocas os meus lábios
Ainda por acabar de serem feitos
...e brilho no teu olhar...

e uma pena suave se cruza em nós...
mas eu não consigo acabar-te...

Desenho mais uma vez,
tento retocar todos os cantos
que te conheço...
aii... e a penumbra da vida ali se faz.

Ficamos juntos em semblante delírio
e fazemo-nos um ao outro...

Os dedos que se encaixam,
Os olhos que se fazem
e os lábios que se unem
E o ritmo aumenta...

O instinto desenha-nos em passos suaves.

Dançamos nas encruzilhadas daquela rua...
num compasso efervescente de amor...
tua mão, feita por mim,
me empurra para ti...
e os nossos pés nos conduzem...

e cada toque teu, eu sinto
e cada olhar em mim, me arrepio
num cruzamento de passos feitos por nós...

e a efemeridade da vida nos acompanha
e o sonho desvanece... e já não o sinto...

(Alexandra Sousa)


A ti Alexandra, um Beijo meu, junto com o meu Muito Obrigado, por este momento.

terça-feira, junho 17, 2008

Curtas 16 – Parte de Mim


Decidi finalmente livrar-me de ti de forma definitiva.
Procurei uma caixa para colocar lá todos os teus pertences, réstias de ti, que ainda andavam espalhadas por aí, como fantasmas alados que teimam em permanecer, negando a sua condição.

“Não deve ser preciso uma muito grande” – pensei eu – “Já passou tanto tempo...”

Coloquei-a em cima da cama e semi-deitado ao lado dela, comecei com calma, sem qualquer tipo de pressa, a colocá-los lá, um por um...

Comecei pelas tuas palavras.
Espalhadas por todos os cantos, pondo todos os meus espaços em completa desordem, fui recolhendo-as e com jeito, com um certo carinho nostálgico, acomodando-as uma a uma, sobre o fundo da caixa. Como é possível? Como é possível que fossem tantas? Em todos os lugares, todos os objectos, todas as lembranças, todas as memórias estavam palavras tuas...
Encheram quase toda a caixa. Fui procurar uma maior.

Coloquei a maior ao lado da primeira, despejei nela todo o conteúdo e continuei...

Passei para as frases.
Aqueles pedaços da tua voz que guardava ainda no vibrar dos meus tímpanos, rabiscados nos meus sentimentos, das quais tantas vezes me lembrava...
Tinhas o dom da palavra e esse hábito de verbalizares frases que deixavam em mim, marcas da tua presença. E até agora, eu ainda não me tinha apercebido do quanto e do tantas que elas eram...
Já não couberam todas na nova caixa! Tive de tratar de arranjar outra ainda maior.

Coloquei a maior agora no chão e despejei uma vez mais, todo o conteúdo da anterior e continuei...

Voltei-me para as imagens.
Desfolhando o álbum de nós, as imagens de ti gravadas na memória, foram passando como um show de slides. Um show que parecia não ter fim... Tinha imagens de ti em tantos lugares, tantas situações, tantas emoções... imagens de ti... imagens de nós...
Imagens das tuas mãos (das tuas mãos nas minhas), dos teus olhos (onde via reflectidos os meus na envolvência de um beijo), dos teus lábios (embrenhados nos meus, passeando-se pela minha pele), dos teus braços (envoltos em mim, nos nossos abraços)...
Foi quando me apercebi que as minhas memórias eram as nossas memórias e apesar de fazer um esforço nesse sentido, não consegui encontrar nenhuma da qual não fizesses parte...

Uma caixa não serve definitivamente. Terei de arranjar um caixote e desta vez, trarei o maior que arranjar.

E foi no jardim que continuei a limpeza.

A primavera deu-me o mote para a próxima secção: os odores.
Como tenho tão presentes em mim ainda os teus odores. Lembro-me do toque de cada essência do perfume que colocavas pela manhã, do perfume que colocavas para sairmos à noite, do odor de ti que deixavas na almofada, do odor de ti que ficava impregnado na tua roupa, mas sobretudo: do odor que a tua pele emanava! A tua pele acabada de sair do banho, a tua pele orvalhada no final das nossas danças a dois, sempre tão íntimas, sempre tão diferentes, sempre tão... nossas! As danças... as músicas... Tantas!!!

E então os sons!
Eram tantos os sons que guardava de ti. Para além dos teus sons, esses que emitias no esgar da intimidade de um Amor feito a dois corpos fundindo-se num só, para além desses sons... impressionante... tenho presentes em mim até os sons do teu quotidiano! O som de ti enquanto lavavas os dentes, sempre com os mesmos gestos, ao mesmo ritmo, em que as cerdas da escova desfilavam notas monocórdicas em uníssono; o som de quando lavavas as tuas mãos (essas mãos...) em gestos mecanizados e propositados; o som da fivela do teu cinto a tilintar enquanto vestias as calças; o som do correr do fecho das botas enquanto o cabedal se moldava ao formato das tuas pernas; o som da escova no teu cabelo, em sons curtos e decididos... Mas sobre todos... o som do teu sorriso... esse som mudo, dos lábios a arquear e a entreabrirem-se, desvendando o branco brilhante do esmalte dos teus dentes perfeitos...

Incrível como por vezes, somos ultrapassados pelos momentos, trespassados pelos sentimentos, sem que de tal nos apercebamos.

Comecei decidido a livrar-me definitivamente de ti,
E nesse processo,
Fui mergulhando cada vez mais fundo em mim,
Encontrando-te nos mais recônditos recantos do meu ser.
Enchi caixas e caixotes com os teus pertences,
E agora...

Nas caixas que foram ficando cheias ao longo do processo,
Nos caixotes nos quais coloquei todo e cada pedaço de ti,
Vejo,
Que não é apenas de ti que me estou a livrar,
Não és apenas tu, retalhos de ti, que estão despojados neles,
Mas todo um EU,
Que sem ti,
Fica tão absurdamente vazio...

Detenho-me e observo-os.
Observo-os e decido.

Esvazio os caixotes.
Despejo-te de novo em mim.

Tudo o que de ti ficou,
Tudo o que de ti existe...
Ficará assim...
Para sempre...

...como Parte de Mim!

quinta-feira, junho 05, 2008

Queria o Teu Silêncio


Queria o teu silêncio.

Queria sabê-lo.
Queria saber o sabor que ele tem para ti.
Queria saber de que cores ele se (te) reveste.
Queria saber que pensares ele te gera,
De como ele te despe,
De como ele te prende,
De como ele te engole.
Queria.

Saber por onde ele te leva na noite,
Por que sentires ele se passeia,
Quais os sentires que te nega,
Em que parte de ti ele te encerra.

Saberás do que ele te priva?
Saberás do que ele te afasta?
Saberás o que te trás, o que te dá?

Saberás que ele tem essa capacidade infinita de crescer?
Crescer, cresCER, CRESCER SEMPRE?
Até te absorver todas as palavras,
Encher todos os teus poros,
Privar-te de todos os sentidos,
Não deixando lugar para nada mais,
Que não apenas esse grande,
Absoluto e Imensurável,
S.I.L.Ê.N.C.I.O ?
Gostava que o soubesses.

Queria sabê-lo.

Queria saber da tua imagem,
Que vês reflectida no espelho,
Enquanto envolta no teu silêncio,
Vagueias alheada do mundo,
Com ele, apenas com ele,
Esse que te rouba de mim,
Que detém o controle sobre o teu ser,
Que não te deixa ver para alem de ti,
Que não te deixa ver-me a mim...

Queria saber do teu silêncio.
Da tua questão em mantê-lo,
Do teu querer alimentá-lo,
Do teu tudo fazeres para desenvolvê-lo,
Fazê-lo crescer,
E fazeres essa TÃO grande questão,
De o manteres,
Só para Ti.

Queria o teu silêncio.

Queira que ele me rasgasse o peito,
Como o fazem as tuas ausências.

Queria que me deixasse só,
Como o fazem as tuas ausências.

Queria que me calasse as palavras e os sentidos,
Como o fazem as tuas ausências.

Queria que ele me implodisse sobre mim,
Como em todos os dias,
Que lentamente vou morrendo no meu interior,
Pela força das tuas ausências.

Queira que me incluísses nele,
Que me afundasses em ti junto com ele,
Com o ecoar do vazio
Nas profundezas do teu corpo,
E me deixasses...
Simplesmente me permitisses...

Limpar-te dele,
Enchendo-te de palavras,
Enchendo-te de cheiros, sabores e saberes,
Enchendo-te de mim e desse tanto de Ti,
Que atiras borda fora,
Quando permites,
Que o silêncio te tome.

Queria saber do teu silêncio.
Mas tu simplesmente não me deixas.
E assim desenvolvo em mim o meu.

Eu,
Que queria tanto o teu silêncio,
Apenas porque,
Te quero assim tanto...
...a Ti!

quarta-feira, junho 04, 2008

Das Palavras que nos unem

Porque mais uma vez, encontro nas palavras deste HOMEM um espelho de sentires de mim, deixo-vos aqui as suas FANTÁSTICAS palavras:

"RASGO

Sacudo de mim cada palavra que em gesto me transborda.

Rompo por dentro de mim mais um lábio mordido, uma lágrima solta de encontro à minha tontura de tanto ter e nada ter!

Quero atirar-me contra uma parede e deixar essa marca da fúria a escorrer-me no rosto e no cansaço.

Rogar a rouquidão de tamanho fogo que se esvai em cada volta.

Tempestadamente criar de novo a ternura e quem sabe poder abraçar.

Ou então perder-me no aconchego do tranquilo manto estendido sobre cada verso que te dou.

Sem saber que nunca mais o tempo me servirá a paz.

Porque morro todos os dias em mim.

No acordar frenético dos embalos, dos gritos, dos saltos, dos perturbantes soluços que me pintam a criação."

Pedro Branco
Blog "Das palavras que nos unem" (com link aqui ao lado)

Para Ti Pedro,
Um ABRAÇO!